Pesquisa: Rezadeiras/Curandeiras

  As ave marias cheias de graças e dons de curas

  Os benzedores receberam influências da tradição xamânica. Os xamãs de todos os continentes usavam ervas, rezas e invocações para curar. No Brasil, a imagem do xamã equivale a do Pajé, e as rezadeiras são originárias dessa tradição secular passada de mãe para filha (o).
  Se fizermos nossa arvore genealógica, veremos que temos descendência com índios,ou com negros ou com brancos; basta estudarmos nossos costumes e veremos que vivemos hoje num contraste do novo com o velho. Somos da terceira geração, nossos pais vinheram de regiões interioranas onde as práticas de curandeirismo, parteiras, raizeiros dentre outros costumes são bastante comum, isso porque há uma forte ligação de misturas de costumes indígenas, de escravos e brancos. São Paulo foi considerada a mais indígena e brasileira. O Tupi foi a lingua mais falada em S.P. Livro: A capital da solidão, do jornalista Roberto Pompeu de Toledo.
  Em um trabalho de resgate e difusão cultural que participei como facilitadora, pude perceber que os jovens dos bairros de nossa capital (Fortaleza) ao fazerem suas arvóre genealógica, mostra que é comum sermos descendentes de índios, negros e brancos, isso porque nosso país (Brasil) é multicultural, de várias etnias.
  Durante o ato da reza, há uma intermediação entre a rezadeira e deus., Porém é necessário que o paciente tenha fé e acredite na cura, para que a reza tenha eficácia e o cure. Podemos dizer que a cura é um efeito de fé, boa energia, fenômeno de sugestão ou inspirada por bons espíritos. As benzedeiras são pessoas de deus e isso já é um grande fator para curar os males; conta Léo Artése, xamã e autor d´O Vôo da ÁGUIA: Editora Roka.
  No site pretos novos, há uma descrição da vinda dos negros africanos aquí no Brasil.(...os portugueses que colonizavam o Brasil, traziam as populações africanas para o país e submetiam-nas a um trabalho forçado e escravo nas minas de ouro. Desde sua captura até o desembarque no Brasil, os escravos experimentavam, no mínimo, um ano de cativeiro. Durante o transporte na travessia do Atlântico, a taxa de mortalidade era bastante alta, chegando, às vezes, a quase 20% do total capturado no continente. Daí, a enorme necessidade de identificar os negros com marcas feitas a ferro quente para indicar seus proprietários. Recebiam na pele também o sinal da cruz como prova de terem sido batizados no ritual católico. Muitos eram marcados após desembarcarem nos portos de destino ou então eram remarcados.)
  Nosso país é um caldeirão com misturas de raças, não há no que estranhar, que durante nosso dia-a-dia comemos aquela feijoada gostosa e descobrimos que foi criada por negros escravos, que era nada mais que sobras de carnes de porco dos senhorinhos; uma tapioquinha no café da manhã ou no lanche da tarde, e descobrirmos que foi criada por índios, e hoje com o mundo todo globalizado criações/invenções dão a tapioca de hoje um novo sabor: tapioca com carne de sol, com leite moça, com queijo...invente! mas a tradicional não deve mudar, é unica; A missa do padre! quem trouxe foram nossos descobridores/exploradores brancos. Então somos ou não uma multimistura de raças e culturas?
  Quando á uma queixa, devido o estado físico ou espiritual, ficamos numa situação de entrega e fragilidade, pois algo incomoda e se torna forte para aquelas pessoas que desconhecem a origem do mal/desordem de sentido. E agora, o que fazer? Como se consultar de quebranto, Mal-olhado, Espinhela caída, vento caído...?  A situação médico- paciente faz com que o conhecimento do médico produza uma assimetria que favorece a relação por parte do primeiro; Já a relação benzedeira-paciente, faz com que uma figura do povo e sem estatus ainda que reconhecida pela comunidade a pessoa que a procura não a dar total aceitação. Existe a cristalização de dois tipos de linguagem: a linguagem da tecnológia e da ciência versus a linguagem da magia e persuasão, nos adverte de que a diferencia entre o uso mágico e o uso teórico das palavras é somente de grau, pois o significado de todas as palavras deriva de experiência corporal, Malinowski, 1935.
  O processo de benzedura é uma mistura harmônica de encenação, ritual, fé, crença, intermediação e sincretismo. Durante a benzedura a casa da rezadeira vira um palco onde pacientes, acompanhantes e curiosos formam uma platéia e assistem a encenação em que curador e paciente se colocam naquele instante; O modo em que o paciente e rezador estão expostos, o uso das palavras sussurradas, o silêncio, e o horário formam o ritual; A fé é a mais que necessária e determinante, pois é a fé do paciente que dará a todo processo da benzedura a eficácia esperada; A crença se coloca de primeira instância, pois é o que leva o paciente sair de casa em direção a residência da rezadeira crendo na sua cura; A intermediação penso ser a principal de todo conjunto, pois de nada adiantaria se não houvesse a intermediação divina, para curar um mal muito mais espiritual do que físico, sendo que o físico é conseqüência do espiritual; O sincretismo é apenas uma forma de fortalecer a fé por meio de elementos (objetos)e seus significados, como a folha de pião, a faca para cortar o mal(simbolicamente), amuletos, orações escritas em papel e o nome do paciente no verso, terço, imagens(altar), velas, cordões, crucifixo, fotografias dentre outros, sendo que cada rezadeira se utiliza de seus objetos em especificidade individual.
  As rezadeiras possuem uma sintonia com a energia divina muito forte. Elas percebem uma energia que a ciência ainda não comprovou, que está para as benzedeiras assim como o ar está para nós, explica Paulo Giraldes, administrador, pintor mediúnico e espírita.
  É um ofício de sagrifícios, já que a rezadeira não nega um pedido, sendo que esteja dentro do horário de rezas (...) O dom obriga, manda, é um compromisso assumido. Ele representa um certo privilégio ao adotar o escolhido de um poder especial, mas também é vivenciado no seu caráter obrigatório de atribuir uma responsabilidade à qual o escolhido não pode fugir. Pereira, 1993, livro A ciência da benzedura, EDUSC Editora da Universidade do Sagrado Coração.
  A rezadeira e sua religiosidade, é interessante saber que as de zona rural são católicas e as de zona urbana de várias religiões.

Escrevendo...
 
O conhecimento privilegiado que as benzedeiras possuem do universo mitológico, das tradições e da história do seu grupo social as incumbe e as autoriza a exercerem a função de outorgar sentido aos fatos que parecerem escapar à significação do cotidiano, Mendes e Mendes, 1994,p.30).